segunda-feira, 5 de dezembro de 2011



Foi o ano em Buenos Aires da Capital Mundial do Livro, ano em que conheci melhor Borges

"¿Cuál es la tradición argentina? Creo que podemos contestar fácilmente y que no hay problema en esta pregunta. Creo que nuestra tradición es toda la cultura occidental, y creo también que tenemos derecho a esta tradición, mayor que el que pueden tener los habitantes de una u otra nación occidental ". Jorge Luis Borges

(El escritor argentino y la tradición)

Aqui conversa-se em cada esquina
Aqui ainda existem os teatros de bairro
aqui tudo se re-aproveita. re-utiliza
aqui as crianças brincam na rua
Aqui as tabernas têm pó nas garrafas esquecidas



"Ser cosmopolita no significa ser indiferente a un país y ser sensible a otros. Significa la generosa ambición de ser sensibles a todos los países y todas las épocas, el deseo de eternidad, el deseo de haber sido muchos..."



hoy en día por “cosmopolita” se usa para aquel que se considera ciudadano del mundo.




" Soy un cosmopolita que atraviesa fronteras porque no le gustan." – Jorge Luis Borges
El otro Borges (Buenos Aires: Editorial Equis, 1997).


mais uma vez fui à exposição Cosmopolis
"Cosmópolis" puede ser una utopía de la que era consciente el escritor, pero quizás esa universalidad sea la única verdad que posee el ser humano al margen de razas o nacionalidades: ser ciudadano del cosmos.




- outro Cosmopolis, the film, para 2012

domingo, 27 de novembro de 2011

Benvinda Chica


experiências de reflexos na PROA,
na Boca esta semana, com Cannon G12


que bom poder partilhar, conversar, redescobrir a cidade



fazer a ponte entre os dois mundos

sábado, 5 de novembro de 2011

888



... é uma pena que as galerias de Antiguidades de San Telmo estejam a fechar...




sente-se a pressão imobiliária, as mudanças a chegar rápido demais a este lado do Oceano




- C de cerró, C de Curiosa

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

História e curiosidades

a chegada na outra margem

a pesquisar, a aprender:
Documentário "La Gran inmigracion Argentina siglo XX"

parte I _ chegada e condições dos emigrantes
parte II _ crescimento da cidade, o Tango
parte III _ forma de falar, el porteño, as greves


a vida dos emigrantes nos Conventillos

as histórias por detrás dos lugares,

do porquê desta mentalidade, desta forma de vida fundada no cruzamento, da troca,
das gentes aventurosas que largaram tudo e que aqui lutaram por estar bem

e qual é o dulce de leche mais antigo?; La Martona ;)

«La Martona fue la primera industria láctea de Argentina y la primera que industrializó el dulce de leche. Hasta Jorge Luis Borges escribió sobre ella»

Con variaciones en su composición, también se lo conoce como manjar blanco (Chile, Perú y Bolivia); doce de leite (Brasil); arequipe (Colombia y Venezuela); queso de Urrao (Bolivia); cajeta (México); confiture de lait (Francia); milk jam, milk sweet o caramel spread (en los países de habla inglesa); caramel (Sudáfrica); fanguito (Cuba) y rabadi (India).



_ assim era. no Sul

domingo, 30 de outubro de 2011

outro tipo de bagagem



instalação de Marina Font, Festival Foto BA

mais trabalhos dela aqui






El señor de los pájaros, Nayarit, 1984

foto de Graciela Iturbide

"Como em quase todas as suas imagens, El señor de los pájaros é uma imagem poética, realizada numa época em que o seu interesse pela cultura popular indígena e a sua relação com as pessoas que retrata geram imagens que, apesar da sua aparência documental, estão na realidade despojadas da sua verdade testemunhal. Graciela Iturbide (Ciudad de México, 1942) ao longo de 4 décadas construiu uma obra intensa e singular, fundamental para compreender a evolução da fotografia na América Latina. Para Iturbide fotografar é um pretexto para conhecer. Assumindo a própria subjectividade, despojando a fotografia da sua hipotética verdade totalizadora. Iturbide documenta e fabula manifestando os paradoxos em que vivemos imersos. A sua obra nos faz participantes de uma reflexão sobre o Mundo onde o compromisso social não está dissociado de uma visão poética."

do catálogo do Festival

(imagem do Cartaz do Festival Cine 4+1)


muito bom doc GENPIN, de Naomi Kawase

uma outra visão do nascimento no Japão




excertos do fim-semana da cidade que não pára




- outros fotógrafos a explorar

Fotógrafo argentino-Japonês, Guillermo Ueno

da PhotoBA 11
Playas de Buenos Aires, Gian Paolo Minelli
(as únicas Playas desde lado...)
Mapa de los Sueños de America Latina, Martín Weber
Retratos nocturnos, Alejandro Guyot

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

BA floresce


"Una vida en tránsito sin ataduras materiales.
Tenerlo todo sin tener apenas nada."

uma peça de Martín Azúa 1999, Fotografías Daniel Riera.



Confesso que tinha saudades :
da simpatia, da simplicidade, o bom gosto (em todo o lado),
dos detalhes que nos fazem sentir bem
da entre-ajuda verdadeira e espontânea (de conhecidos e menos conhecidos)
do desbloqueio das normas, do tempo solto, de ouvir e hablar porteño
de andar a pé em vez de carro, das escadas-rolantes de madeira do subte (e do passe baratinho)
das medialunas e piscos, do mate e do ceviche, da carne
da senhora dos legumes e vendas 24h de flores no passeio
do vendedor de plumas espanta-pó de Arenales
da vida nos parques de árvores gigantes e siestas na relva
dos passeadores de cães, dos mozos a distribuir cafés de bandeja na rua
dos carros antigos a circular, das lojas de pasta fresca e dos gelados de tradição italiana
da criatividade e estímulos diários* de uma cidade a florescer

florecer
intr.-tr. Echar flor.
fig.Prosperar, crecer en riqueza o reputación.
fig.Existir una persona o cosa insigne en un tiempo o lugar determinado.



imagem da apresentação do projecto Edificio Vilela, Bs As, Argentina.
Arquitecta Ana Rascovsky

É um risco que se corre.
Gostar demasiado desta cidade.



" Vim à procura da cidade. Encontrei a cidade nas pessoas"
como deixou
em palavras amigas uma visita recente.

" Saudade, escreveu Neruda, é solidão acompanhada. Nós saímos de Buenos Aires muito mais acompanhados"

Pedro Santos Guerreiro, (Director do Jornal de negócios)




- outros projectos descobertos esta semana

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

vuelvo al Sur


sempre que se chega, tb a estranheza, que aos poucos se entranha...
o trailer verdadeiro está aqui

"as únicas certezas dignas de fé são as que tomam café de dúvidas a cada manhã."
Eduardo Galeano




. Viagem em boa companhia de leitura, Gandhi

. outro artista das medianeras de Buenos Aires, para espeitar

sábado, 15 de outubro de 2011

há dias que são uma caixilha de surpresas



1ºSimpósio de Economia Criativa
convento/tribunal da Boa-hora

começar na Experimenta

máquina desenhos de areia no claustro

que sempre revela lugares novos que ninguém conhece
e desafia a outras iniciativas e perspectivas criativas,
mesmo com menos recursos





explorar a Tapada da Ajuda
em breve com obras a começar



e acabar a ver L´Atalante
filme anos 30 de um Realizador-Poeta

ciclos de clássicos
do Cinema do Nimas



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

rolo de experiência de dupla exposição OM1


" Carta a ti, que podes ser Lisboa em cores de ou outra alguém. Gosto como o teu cabelo esvoaça ao vento, como ramas de árvores de folhagem persistente, ou que, folha planando, caias docemente por esta altura rubras de muito amarelo. Gosto de gostar de ti e de me perder nas tuas ruas, trincheiras pele com pele, corpo em colinas de montanhas feita cidade. Cada detalhe teu é um beco meu e cada largo um planalto do corpo, o umbigo uma fonte e a tua estrutura óssea saliente pequenasespinhas da cidade. Lisboa é um constante folhear de cartas de amor, a ti e à cidade que nos faz. "

gosto do texto de abertura da LeCool




quarta-feira, 14 de setembro de 2011


Deserto

Ontem havia água
hoje há terra
amanhã que haverá?
Ninguém sabe ao certo.
Talvez deserto?

O planeta continua a girar.

(texto de instalação no jardim)


Abriu uma nova-linda livraria no bairro
a Babel juntou-se ao Fabrico infinito.

Que bom que é estar em Portugal


_ que calor, vou chapinhar!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

tempo de cartas


carta de mãe para filha


cartas de Amor
(tantas!)



livro da missa do casamento dos meus pais


a explorar o passado da família
a preparar um "livro de vida",
em celebração dos 80 anos da matriarca,
em breve.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

a Norte




Quinta da Alameda
Vale Mondego, rolo OM1

Foram dias de rio, de ver crescer e amassar pão, dos segredos do queijo e da horta, das amoras no caminho



...

" Não se deixe perturbar na sua solidão pelo facto de sentir desejos de a abandonar. Usadas com calma e reflexão essas tentações devem mesmo auxiliá-lo como instrumento capaz de alargar a solidão num país ainda mais rico e maior. Os Homens possuem para todas as coisas soluções fáceis e convencionais, as mais fáceis das soluções fáceis. Entretanto, é evidente que se deve preferir o difícil: tudo o que existe lá cabe. Cada ser se desenvolve e se defende à sua maneira e tira de sí próprio, a todo o custo e contra todos os empecilhos, essa forma única que é a sua. Conhecemos muito poucas coisas, mas a certeza de que devemos sempre preferir o difícil, nunca se deve abandonar. É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil motivo mais forte para a desejar. Amar também é bom, porque amar é difícil. O Amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são apenas ensaios. É por isso que os seres humanos novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam aprender. Com todas as energias do seu ser, reunidas no coração que bate inquieto e solitário, aprendem a amar. Toda a aprendizagem é uma época de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até durante a vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais intensa e mais profunda. O Amor não consiste em uma criatura se entregar, se unir a outra logo que se dá o encontro. O amor é a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos um universo para o outro. É uma alta exigência, uma cupidez sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais largos horizontes. Quando o amor aparece, os novos apenas deveriam enxergar nele o dever de trabalharem em sí próprios. A faculdade de nos perdermos noutro ser, até nos entregarmos a outro ser, todas as formas de união, ainda não são para eles. Primeiro é preciso ajuntar muito tempo, acumular um tesouro.
(...)
Nunca, nem na morte, que é difícil, nem no amor, que é também difícil, aquele para quem a existência é uma coisa grave terá o auxílio de qualquer luz, de qualquer resposta já fornecida, de qualquer caminho previamente traçado. Não há regras gerais para nenhum destes deveres que trazemos ocultos em nós e que transmitimos aqueles que nos acompanham sem jamais os esclarecer. (...)


com todos os meus votos de felicidade,

Rilke
(Roma, Maio 1904) "


in "Cartas a um jovem poeta", Rainer Maria Rilke




terça-feira, 2 de agosto de 2011

Algarve


Cacela a Velha, do largo da Igreja
Reserva da Ria Formosa





Havia panos que nem velas de barcos
estandartes de poesia ao ar
palavras e memórias à solta
banhos de mar e horizontes


Algarve
O mistério do Mar o milagre do Sol e a graça da paisagem na moldura dos olhos e a paz feliz de que tenho o que é meu. Ah, terra bem amada benção da Natureza caiada de pureza e nimbada de saudade Algarve. Liberdade dos sentidos. Férias ao Sul da imaginação. Ainda a mesma nação. mas com outros sinais. E a memória também de que todo o além começa neste cais.

Miguel Torga (numa rua de Cacela)



poesia nas ruas de Cacela a Velha


Memórias

Uma casa que nem fosse um areal deserto; que nem casa fosse;
só um lugar onde o lume foi acesso, e à sua roda se sentou a alegria;
e aqueceu as mãos; e partiu porque tinhaum destino; coisa simples e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passosde abril
ou, quem sabe?
a floração dos ramos, que pareciam secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia."

Eugénio de Andrade



_ e pensar no outro lado o frio e neve

domingo, 31 de julho de 2011

Voltar...

de outras vindas
Terras de Bouro Abril 2011 com Olympus OM1

à terra
à família
ao calor
às plantas
ao Verão
ao Algarve
ao encontro



dos caminhos...

segunda-feira, 11 de julho de 2011

de livro em livro, de terra em terra


Pablo Neruda no bar de sua casa de Isla Negra, Chile
(onde escreveu os nomes de todos os seus amigos
na estrutura de madeira que aì o acompanham sempre)


lendo o livro*
"Buenos Aires, Buenos Aires"
de Sara Facio y Alicia d´Amico.



este Senhor-poeta jà hà muito me tinha cativado,
ainda mais depois de descobrir a pessoa por tràs dos poemas
(neste filme e depois pessoalmente quando fui aqui e aqui logo mal cheguei)

mas venho cada dia a descubrir outros autores,
atravès de novos livros lidos,
atravès da experiëncia da dinämica actividade da Capital Mundial do Livro.

me enamorè em especial deste livro* que Neruda segura nas mäos
mostra uma Buenos Aires de outros tempos
(que fez lembrar este: Lisboa, cidade triste e alegre)
e me mostrou o trabalho desta fotògrafa, Sara Facio
que tambèm nos dà a conhecer tantos outros autores,
e da vida por tràs das obras publicadas.

outro fotògrafo incrìvel complementa esta visäo de Buenos Aires, Horacio Coppola
para conhecer melhor, espreitar aqui


Recentemente a visita surpreendente ao mundo borgeano atravès da exposiçäo Cosmopòlis,
(atè Dezembro)
outro autor incontornàvel a conhecer e ler aqui.


e jà em jeito de despedida temporària aqui fica uma Buenos Aires
cada vez mais vivida que levo comigo

“Buenos Aires nos impone el deber terrible de la esperanza.
A todos nos impone un extraño amor,
el amor del secreto porvenir
y de su cara desconocida”

J. L. Borges


_ que saudades de mar!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

otro SOL



apuntes da acampada SOL




"Registros para pensar, pensamientos para registrar"





_ leituras do dia: MU45 la pata política

"que tenemos que dejar fuera cada cual para entrar en la Plaza?"


"la diferencia entre utopía y heterotopía.
la utopía es otro mundo. la heterotopía es una pequena distancia con respecto a la realidad que nos permite habitarla de otra manera. No queremos otro mundo, el otro son ellos"

"cómo prolongar y aterrizar lo excepcional en lo normal(?) ... llevarnos el sol con nosotros."


(estos, y otros, apuntes fueran publicados en el blog de Amador Fernández Savater que los quiso compartir con MU como una botella al mar del debate, a la luz de la experiencia argentina de la crisis de 2001...)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

quanto tempo o tempo tem

grafitte algures em San Telmo


o tempo corre devagar, a vida passa a correr



" Cronos: Tiempo ; época determinada; período; duración de la vida; edad;época del año, ocasión, oportunidad, sazón; demora; retraso."





There is a saying:
yesterday is history, tomorrow is a mystery, but today is a gift. That is why it is called the
"present."
Master Oogway, daqui ;)


para ir ver
Parque de la memória, para que não se esqueça o passado

domingo, 19 de junho de 2011

cine en casa


Naus e caravelas Sta Maria, Niña e Pinta de Cristovão Colombo

1942, conquest of paradise
Ridley Scott, 1992


"You never tried to learn my language..."



a Descoberta do Novo Mundo
uma nova tentativa para a civilização,
Será o Homem capaz de melhor?



Queen Isabella I.: [referring to Columbus' proposed expedition] The costs would be ruinous. Sanchez: No more than the costs of two state banquettes.

(...)

Sanchez: [Columbus stops Sanchez after he leaves an audience with the Queen. Sanchez looks at him, disgusted] You're a dreamer. Columbus: [shooting a glance out of a window] Tell me, what do you see? Sanchez: [pausing to look] I see rooftops, I see palaces, I see towers, I see spires that reach... to the sky! I see civilisation! Columbus: All of them built by people like me. [Sanchez doesn't respond - shocked] Columbus: No matter how long you live, Sanchez, there is something that will never change between us. I did it. You didn't.

(...)


Columbus: Riches don't make a man rich, they only make him busier.

cena do filme após o tornado, formigas atarefadas na reconstrução





_ "The thin red Line", outro filme visto recentemente em tempo de chuvas lá fora

_ Hoje por aqui Homenagem a Ernesto Sabato, e ontem em Lisboa, a José Saramago

_ o jantar logo é aqui
;) Sukiyaki

quinta-feira, 9 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

os deuses devem estar loucos...




Erupción del vulcán Puyehue
Cordón Caulle, en la Cordillera de los Andes, Chile
05-06-2011


la nube de cenizas atravesa Patagónia asta el Atlântico, y llega hoy a ciudad de Buenos Aires...
jornal la Nacion




lembram-se?

com a expressão real da força da terra,
(como outras tão recentes)
faz repensar as falsas necessidades
...
as relações Homem e Natureza.
mais aqui



hoje um abraço inesperado português numa rua ao acaso de BsAs :)


quinta-feira, 2 de junho de 2011

clic*

foto de Denver Garza

trails of the roller coaster

Blackbird Fly in Fujichrome Sensia 400


toy camera
blackbird, fly máquina foto 2 lentes, reflex, sobreposições, negativo 100%
descoberta hoje


mais info
mais fotos


outra forma de fotografar, de olhar




versão música

partindo desta música de fundo no pilates matinal, a cantarolar pesquiso e sai isto.
assim descubro hoje esta máquina apetitosa...



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sábado, 28 de maio de 2011

señor tango



10 segundos de Piazzola aéreo...

girando a cabeça ao contrário como neste hemisfério

(...)
" Primero hay que saber sufrir,
después amar, después partir
y al fin andar sin pensamiento..."

Naranjo en flor, tango 1944

quinta-feira, 19 de maio de 2011

take me, home



they made it



up up up

down to home town ...






sobre a leveza

A primeira das seis propostas que Italo Calvino faz para o próximo milénio (este que estamos a viver) é a reconquista da leveza. Se tudo no tempo parece empurrar-nos com ilimitada gravidade para a rasura, temos de entender, então, a leveza como o ato de contrariar esse peso. De facto, somos chamados a “aliviar” a espessura de tudo aquilo que obscurece o texto do mundo e nos obscurece.
...
Com Calvino aprendemos duas coisas importantes sobre a leveza: a primeira de todas é que ela nos pede uma arte de resistência, pois só reconquistamos a leveza a custo de uma paciente luta (a maior parte das vezes connosco próprios); a segunda é a necessidade de activarmos a nossa capacidade de deslocação (na verdade, só um olhar peregrino possui a agilidade espiritual para não se deixar sequestrar pelo desânimo)
Fixemo-nos na primeira: uma atitude de resistência. A leveza convoca-nos para a redescoberta das fontes profundas e adormecidas do nosso Ser e da linguagem. Num mundo de ruído, de mensagens que se atropelam, de imagens que se devoram (e nos devoram) de tão repetidas e sobrepostas há que combater a banalização. Mergulhados num excesso de signos, nem nos damos bem conta da pobreza simbólica com que construímos, dia a dia, a nossa vida. Tornamo-nos mais consumidores, que criadores. A nossa acção confunde-se com um automatismo que renuncia à vocação que o gesto, a palavra ou o silêncio têm de impregnar o mundo de sentido.

Precisamos de leveza, então.

Isto é, de exactidão. Sim, não se pense que a leveza é simplesmente uma forma mais ligeira de conduzir a realidade, pois ela nada tem de ligeireza ou de superficialidade. Com razão, Calvino cita um verso de Paul Valéry:

«É preciso ser leve como o pássaro, e não como a pluma».

«Leve como o pássaro», quer dizer, autêntico, preciso, consistente. A leveza não tem a ver com plumas, mas com a aprendizagem do que é voar, do que é ascender, do que é desprender-se para ser.

A leveza é uma escolha.

A segunda tarefa passa pela sabedoria de não ficar aprisionado a um modo único de olhar a realidade. Italo Calvino explica-a deste modo: «Cada vez que o reino humano me parece condenado ao peso, digo para mim mesmo que […] eu devia voar para outro espaço. Não se trata absolutamente de fuga para o sonho ou o irracional. Quero dizer que preciso mudar de ponto de observação, que preciso considerar o mundo sob uma outra óptica, outra lógica, outros meios de conhecimento e controle». A leveza desafia-nos não a mudar de vida ou a romper com aquilo que estruturalmente somos. Pelo contrário, ela supõe uma aceitação. Mas incita-nos incessantemente a olhar a realidade quotidiana com olhos novos. Escrevia Saramago na conclusão do seu “Viagem a Portugal”: «Quando o viajante se sentou na areia da praia e disse: “Não há mais que ver”, sabia que não era assim.

O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite… É preciso voltar aos passos que foram dados, para os repetir, e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem…».

José Tolentino Mendonça