Ontem fui ouvir o mar.
(e o que te disse?)
ensinou-me a olhar para o fundo.
(como... ?)
Aprendi que podemos apenas chapinhar na costa, (e em crianças é tão simples e completo assim brincar) mas se queremos encontrar a claridade da água, para livremente poder nadar, é preciso atravessar a rebentação das ondas, enfrentar as águas agitadas que nos alcançam e atingem com re contra força e em rede moinhos envolvem; para a frente e para trás, para a frente e para trás. levam e devolvem. desorientam, e ao mesmo tempo animam e impulsionam a entrar.
(e qdo entras?)
ao entrar somos levados a subir grandes montanhas de água; muitas vezes até nos tiram os pés do chão. E depois, logo depois, nos fazem descer e devolvem à costa, para de novo começar...
e ao tentar tentar, quem avança um pouco mais chega enfim a uma zona em que apenas ondula.
- há muitas algas que impedem de ver o fundo -
mas sim, dá até para boiar. e deixar-se levar pela corrente. Suavemente. olhos fechados.
(então é aí, onde se está bem?)
para muitos sim,
sentem-se bem nesse leve ondular...
(e tu?)
eu tentei ainda nadar mais longe. nadei nadei nadei. por fim surpreendi-me com uma água límpida e verde. verde esmeralda, brilhante. verde. esperança.Vejo o fundo ondulado do chão de areia movediça em baixo, cheio de altos e baixos. sorrio e aceno. E vejo-me a mim. claramente. ao meu corpo inteiro na água. Vejo os meus braços que abrem caminho. sinto correntes frias que vêem do alto mar avisando-me que me devo mexer, para não esfriar. alertando dos perigos, perigo de me levar para tão longe, que não possa mais voltar. Mas estar ali é mesmo assim. águas quentes e fria ao mesmo tempo. e assim de repente, límpida tão límpida. e clara. e verde.
(e daí o que vês?)
Vejo toda a costa e falésia escarpada com uma amplitude e definição incrível. Vejo gaivotas a voar, cada uma no seu caminho. juntas em bando. duas em par. voam sobre mim rasantes.
( e já tens vontade de a voltar a pisar...?)
Sim, regresso.
Volto a ter que atravessar as águas agitadas, levo algas agarradas aos cabelos, mas suavemente o chão de areia volto a pisar.
sigo e vou. mas limpa de água salgada e límpida*. inteira e renascida.
(*a mesma das lágrimas, que tb têm o poder de lavar.)
registos soltos de mergulhos, ao final de um dia quente do alto de uma falésia com luz de pôr de sol, de uma praia especial da reserva natural do Meco
E hoje foi bom poder voltar simplesmente, a chapinhar!
bons mergulhos*
_um livro com outras histórias de mar
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