quarta-feira, 17 de agosto de 2011

a Norte




Quinta da Alameda
Vale Mondego, rolo OM1

Foram dias de rio, de ver crescer e amassar pão, dos segredos do queijo e da horta, das amoras no caminho



...

" Não se deixe perturbar na sua solidão pelo facto de sentir desejos de a abandonar. Usadas com calma e reflexão essas tentações devem mesmo auxiliá-lo como instrumento capaz de alargar a solidão num país ainda mais rico e maior. Os Homens possuem para todas as coisas soluções fáceis e convencionais, as mais fáceis das soluções fáceis. Entretanto, é evidente que se deve preferir o difícil: tudo o que existe lá cabe. Cada ser se desenvolve e se defende à sua maneira e tira de sí próprio, a todo o custo e contra todos os empecilhos, essa forma única que é a sua. Conhecemos muito poucas coisas, mas a certeza de que devemos sempre preferir o difícil, nunca se deve abandonar. É bom estar só, porque a solidão é difícil. Se uma coisa é difícil motivo mais forte para a desejar. Amar também é bom, porque amar é difícil. O Amor de um ser humano por outro é talvez a experiência mais difícil para cada um de nós, o mais superior testemunho de nós próprios, a obra absoluta em face da qual todas as outras são apenas ensaios. É por isso que os seres humanos novos, novos em tudo, não sabem amar e precisam aprender. Com todas as energias do seu ser, reunidas no coração que bate inquieto e solitário, aprendem a amar. Toda a aprendizagem é uma época de clausura. Assim, para o que ama, durante muito tempo e até durante a vida, o amor é apenas solidão, solidão cada vez mais intensa e mais profunda. O Amor não consiste em uma criatura se entregar, se unir a outra logo que se dá o encontro. O amor é a oportunidade única de sazonar, de adquirir forma, de nos tornarmos um universo para o outro. É uma alta exigência, uma cupidez sem limites, que faz daquele que ama um eleito solicitado pelos mais largos horizontes. Quando o amor aparece, os novos apenas deveriam enxergar nele o dever de trabalharem em sí próprios. A faculdade de nos perdermos noutro ser, até nos entregarmos a outro ser, todas as formas de união, ainda não são para eles. Primeiro é preciso ajuntar muito tempo, acumular um tesouro.
(...)
Nunca, nem na morte, que é difícil, nem no amor, que é também difícil, aquele para quem a existência é uma coisa grave terá o auxílio de qualquer luz, de qualquer resposta já fornecida, de qualquer caminho previamente traçado. Não há regras gerais para nenhum destes deveres que trazemos ocultos em nós e que transmitimos aqueles que nos acompanham sem jamais os esclarecer. (...)


com todos os meus votos de felicidade,

Rilke
(Roma, Maio 1904) "


in "Cartas a um jovem poeta", Rainer Maria Rilke




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